Por Carlos Henrique Rocha
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Lembram-se do tempo em que as operadoras de telecomunicações capturavam todo o valor de seus serviços? Quem observa o mercado de telefonia móvel nos últimos 10 anos, quando se desenvolveu a oferta da 4ª geração de celulares (4G), percebe a migração do dinheiro da mão das telcos (infraestrutura) para a dos serviços (soluções). Diversas plataformas digitais (Whatsapp, Netflix, etc.) se posicionaram sobre a rede de telecomunicações (as chamadas soluções over-the-top, ou OTT) e passaram a capturar receita sem a contrapartida do investimento. Com a chegada das redes 5G no Brasil, as operadoras de telecomunicações já se preparam para disputa de mercado ainda maior, pela infinidade de soluções que serão viabilizadas pela nova tecnologia. É certo que os clientes finais estarão dispostos a pagar mais pelo que flui “dentro do cano” do que pelo cano propriamente dito.
Em países mais adiantados, o 5G está sendo um divisor de águas. As operadoras que ofertavam puro acesso a dados não tiveram outra alternativa, senão se lançarem também no mundo digital, incorporando oferta de conteúdo e de serviços agregados. No Brasil, as principais operadoras de telecomunicações já iniciaram testes e protótipos, utilizando empresas parceiras, em sua maioria especializadas por segmentos de indústria.
O mercado de 5G global ainda está em formação. Onde já está mais disponível (China, Coreia do Sul e algumas regiões da Europa), a jornada se iniciou na oferta para pessoas físicas (business to consumer, B2C), através de FWA (fixed wired access), simplesmente uma forma de substituir todos os cabos de sua residência por um dispositivo 5G (sem fio), capaz de entregar TV de altíssima definição, hologramas e jogos, em conectividade de gigabits. Ainda resta longo caminho a seguir para que as operadoras sejam capazes de recuperar o alto investimento realizado na disponibilização das redes. Para isso vêm desenvolvendo produtos e serviços voltados a clientes corporativos (business to business, B2B), que compram volumes maiores e possibilitam melhor margem. O ecossistema em B2B eleva o nível da disputa, pois em breve estará repleto de ofertas e concorrências geradas por empresas menores e startups que já desenvolvem diversas soluções de nicho em seus pacotes de serviços, voltados aos mais diversos segmentos de negócios.
A alta capacidade de conectividade do 5G (é possível conectar até 1 milhão de dispositivos por Km2) irá viabilizar de fato a “Internet das Coisas” (Internet of Things, IoT), onde não mais as pessoas se conectam, mas sim objetos (seu carro ao carro da frente, que se liga ao sinal de trânsito, que conversa com seu freio, etc.). Um mar de oportunidades de inovação se abre e IoT deve se transformar na nova plataforma para exercício de criatividade. Segundo o GSMA, o mercado global de IoT deverá superar US$ 1 trilhão em 2025. Promissor, mas estima-se que apenas 5% deste valor ficará associado à conectividade (atual campo de jogo da maioria das operadoras de telecomunicações).
O potencial brasileiro é grande (demanda por 5G deverá superar 40% das conexões móveis em 2025), porém terá dificuldades em desenvolver-se, por conta do desaquecimento da economia e retração de investimentos. A infraestrutura de 5G (antenas, equipamentos e fibra ótica) é cara e com diversos componentes cotados em dólar, tornando o investimento alto. Por fim, as operadoras se movem com cautela, já que o novo serviço deverá canibalizar a base instalada de 4G sem garantir a reposição de resultado, tanto em receita quanto em rentabilidade.
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