Entrevista com Claudia Abreu

BBX Direto ao Ponto: Entrevista com Claudia Abreu

1. Claudia Abreu, conta um pouquinho para a gente sobre você, sobre sua trajetória profissional, pode falar um pouco sobre quem você é, o que gosta, um pouco sobre vida pessoal, também. Fique à vontade para começar por onde você quiser.

A minha carreira tem dois grandes bloco, o primeiro foi super B2B (empresa para empresa), eu comecei minha carreira em um cargo de planejamento estratégico, depois fui para a área de finanças na Shell e, então, fiquei 8 anos na Microsoft.

Nos últimos 3 anos de Microsoft, eu comecei a trabalhar com varejo e em 2 anos quintuplicamos a venda de Windows no país. Estava super feliz e fui promovida […] e descobri que estava grávida. Neste mesmo mês eu descobri um curso que era o que eu mais queria naquele momento, mas o curso era fora do Brasil.

Decidi pedir demissão mesmo estando grávida e amando a empresa em que trabalhava para ir atrás de um sonho. Fui estudar marketing para o mercado de luxo. No entanto, eu tinha uma preocupação muito grande: será que eu jogaria fora que eu já havia aprendido no mercado corporativo e começaria de novo no mercado de luxo? E eu vi que não era assim, porque na verdade, experiência se acumula.

Depois de voltar, eu acabei dando aula em no IBMEC, na Escola São Paulo, fiz projetos para varejos menores e entrei em um novo mercado, em empresas como L’Oréal, Estée Lauder, Kipling e, agora, Mundo Verde.

Hoje em dia, eu sou CEO do Mundo Verde e eu acredito que a gente acaba indo trabalhar com coisas que tem aderência com o que a gente acredita. O propósito do Mundo Verde é: Gerar bem-estar para o indivíduo, com menor impacto ambiental no planeta e em uma cadeia produtiva sustentável e isso, para mim, são coisas essenciais.

Sempre foram na verdade, mas hoje meu dois filhos me puxam muito para esse lado de consciência, seja o impacto ambiental ou social daquilo que fazemos ou escolhemos.

Eu também sou conselheira na Topper/Rainha e, recentemente, me tornei mentora embaixadora da BBX.

2. Agora, você comentou um pouco sobre a missão do Mundo Verde e esse papel que você tem desenvolvido como influência no trabalho. Como foi esse processo de transição, nesse momento de crise, você acha que vocês estavam preparados para isso?

O Mundo Verde é uma empresa que tem mais de 30 anos, fundada em Petrópolis e hoje pertence a um fundo de investidores. É interessante que a evolução da empresa acompanhou a evolução do mercado, porque ela foi fundada para o mercado de nicho, um mercado bem específico. E hoje, falamos de alimentação saudável, para todo mundo.

Durante a pandemia, no nosso caso, o que aconteceu é que o nosso discurso ficou mais forte ainda, porque as pessoas viram que de nada adianta ter a roupa da moda ou o carro do ano, se você não estiver bem de saúde.

Em termos de estratégia, a gente não mudou o nosso plano qualitativo, continuamos trabalhando multicanais, comércio eletrônico, loja própria e franquia, além de testar alguns modelos de canais, como vendas diretas ou até mesmo o modelo de delivery. Com a pandemia apenas aceleraramos as coisas.

E, olha, falar que a empresa estava preparada, eu acho que, de verdade, nenhuma empresa estava preparada, nenhum de nós estava preparado. Foi um choque, eu recebia ligação dos franqueados às 06:00. As pessoas estavam com medo de morrer e as que não estavam com medo de morrer, estavam com medo de quebrar.

Me sinto muito responsável pelo empregos diretos e indiretos que geramos. São cerca de 1200 e 1500 empregos diretos e quase 10.000 indiretos. 75% dos fornecedores do Mundo Verde são pequenas e micro empresas, onde o Mundo Verde é o único canal para escoar essa produção. Agora é momento de preservar caixa. Todas as ações que fizemos foi visando alguma manutenção de faturamento.

Por exemplo, montamos um modelo multicanal para preservar a saúde das franquias, então, dentro do site do Mundo Verde, a primeira mensagem é: você cliente, se quiser ajudar sua loja favorita, você escolhe a loja em uma lista e ela recebe uma comissão por aquela venda no site, mesmo que fosse uma compra online.

A gente propôs um modelo de vitrine infinita, para o franqueado que estava com a loja fechada, conseguisse fazer um trabalho de CRM com o cliente, oferecendo o produto que o cliente sempre comprava na loja física, mas usando o cupom daquele franqueado, o cliente ganhava um desconto na comprar e a loja também era remunerada por esse trabalho de venda. Outra vez, uma compra realizada totalmente online, mas que, com essa estratégia, gerava algum faturamento para essas lojas que estavam fechadas.

Também fizemos uma série de treinamentos para a força de venda, para o gerente, para os vendedores, para ensinar essa pessoas a falar sobre conteúdo, para mudar a forma como a gente fala de saudabilidade [comportamento saudável].

Além disso, temos lives semanais com o time, para contar um pouco o que está acontecendo, qual a estratégia, trazendo profissionais de mercado para falar sobre assuntos que são importantes para a empresa, como vendas, inovação, gestão de franquias. Tenho puxado o time para trabalhar de uma forma mais fluída, em um modelo de grupos de trabalho para solucionar um determinado problema.

Acredito que o principal desafio das empresas hoje vai ser a mudança de mentalidade. Nós estamos trabalhando com modelos ágeis, onde você testa, vê o que funciona, se der certo, continue, se der errado, você para.

Não adianta olhar para trás, esse é o momento de olhar para trás como uma referência histórica, porque de verdade, todas as empresas vão ter que se reconstruir daqui para frente. A realidade é uma só, quem sobrevive não é o mais forte, é o mais adaptado ou o mais flexível, então a gente tem que olhar as coisas com o oportunidade.

3. Vocês já conseguem estabelecer alguma meta de longo prazo? Planejamento ou ações para o futuro?

Olha, eu acho que até a questão de tempo, mudou muito com tudo isso, acho que aqueles planos estratégicos de 5 anos, eles vão deixar de existir! O que nós percebemos é que a direção estratégica que a gente tinha, se manteve, só estamos fazendo ajustes no meio do caminho, intensificando a velocidade.

E tem coisa que veio para ficar, por exemplo, o delivery, era uma coisa que antes a gente não fazia, mas que veio para ficar. Essa compra do dia a dia, ela vai ser simplificada e vai ficar mais prática.

Veja que, de novo, estamos falando de multicanal, porque isso vai muito além de comprar online e pegar na loja. Estar em todos os canais, é estar em todos os pontos de contato que esse cliente vai ter com a marca, onde ele estiver, online, offline, no caminho dele na estrada, na casa, no shopping, na loja franqueada. É entender a jornada do nosso cliente, ver quais os lugares onde ele vai passar e a gente pode estar, com nossos produtos, nossa proposta de valor.

A experiência consistente é uma questão mandatória.

4. Você já comentou um pouco sobre liderança, como é ser uma líder mulher e como fomentar esse movimento no mercado?

Acho que é importante dividir a minha resposta, primeiro em relação à pandemia, ficou escancarado que países liderados por mulheres geriram melhor a crise. Na minha opinião, os homens foram ensinados a terem as resposta. Enquanto, as mulheres lidam de outra forma, a gente reconhece que tem coisa que a gente não sabe, que a gente vai ter que construir juntos. A mulher olha a questão do bem comum, somos mais colaborativas, nossa gestão tende a ser menos hierárquica.

Mas, eu prefiro pensar no equilíbrio ou mais a favor de times diversos, independente do gênero, embora eu fale de liderança feminina, eu sempre prefiro contratar o melhor profissional, independente de ser homem ou mulher, porque eu gosto de times mistos. Claro que times mistos de gêneros, visão política, etc., dão mais trabalho para gerenciar, mas a resposta de um time misto é mais completa.

Então, o que eu faço hoje como executiva é dar para as mulheres a oportunidade de passar por um processo de seleção justo, onde elas possam estar ali.

Agora, se vai ser a mulher ou não, no final, eu quero é ter o melhor profissional, gente que tenha valores aderentes com o que acreditamos Eu prefiro contratar pelo comportamento, porque a parte técnica você consegue ensinar, agora, valor pessoal você não muda, é uma coisa pessoal, você não muda isso.

Eu vejo uma mudança positiva, estamos em uma caminho bom, mas ainda temos muita coisa para fazer. Eu falo isso como conselheira, existem pouquíssimas vagas como conselheiras de empresas, quando para a empresa seria ótimo ter mais conselheiras, porque 80% dos compradores são mulheres. Então, se você não coloca esse olhar no conselho da empresa, você continua com um viés.

5. Pode ser um pouco complicado, mas o que você pode falar que aprendeu nesse período de crise? Ou seja, o que foi escancarado nesse período na sua forma de liderança?

Acho que a primeira coisa, o grande choque, foi entender que nós não temos controle sobre absolutamente nada! Uma outra coisa que a gente já sabia, mas que também ficou escancarado, é a questão de comunicação. Então, o que você fala, não é o que o outro entende. Você precisa ter uma comunicação frequente e transparente.

E o terceiro ponto, é a questão da fluidez das coisas. De verdade, o novo modelo de trabalho será diferente, a forma como as pessoas trabalham e se relacionam vai ser diferente. A gente tem visto várias empresas que são competidores no mercado trabalhando juntas para produzir álcool em gel, para comprar equipamentos médicos, isso é diferente do que a gente via antes, entendeu? Existe uma questão de solidariedade nisso e não é só porque é legal, é porque é necessário essa fluidez, esse trabalhar juntos nesse momento. A gente vai ter que trabalhar de outra forma, olhando as pessoas mais vulneráveis.

6. Não no sentido de previsão de futuro, mas o que é que você deseja no ambiente de trabalho, quando toda essa situação passar?

Eu acredito mesmo que as coisas vão mudar, que essa crise trouxe um aprendizado para todo mundo em relação ao cuidado com a gente e o cuidado com o outro, até mesmo com o planeta. É o que eu disse, você vai trabalhar em um empresa, porque aquele empresa é aderente aos seus valores pessoais ou ao seu momento de vida.

A gente vive em uma engrenagem, a gente só tem um planeta para morar, nenhum outro funciona. Então, teremos que trabalhar de uma maneira consciente e é importante as empresas entrarem nesse contexto.

Pensando no que eu espero para o futuro, eu espero que as marcas tenham uma visão mais humana e mais real do que está acontecendo. Tem que enxergar o cliente, o funcionário, o acionista, o fornecedor de matéria-prima como gente, que é o que a gente é. Então, o meu principal desejo é que as pessoas continuem enxergando o outro como uma pessoa.

7. Quais as suas considerações finais, Claudia?

Para finalizar, gostaria de falar sobre a BBX. Temos um propósito muito bacana que é a economia colaborativa. É colocar empresas que tenham potencial de crescimento junto com gente que pode investir e com pessoas que podem compartilhar o seu conhecimento técnico. Fico imensamente feliz por fazer parte desse projeto, muito mesmo, obrigado pelo convite e pelo bate-papo!

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